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quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

8.15. Tributo a Robert H. Smith – Dr. Bob



Saint Johnsbury, Vermont 08 de agosto de 1879
Akron, Ohio, 16 de novembro de 1950
A.A. Grapevine, janeiro 1951

Por Bill W.
Depois de serenamente dizer para quem o atendia: “Creio que chegou a hora”, o Dr. Bob faleceu em 16 de novembro de 1950 ao meio dia. Assim terminou a enfermidade que o consumia, e no decorrer da qual nos ensinou tão claramente que a grande fé pode superar as graves angustias. Morreu como havia vivido, supremamente consciente de que na casa de seu Pai há muitas moradas.
          Todos os que o conheciam sentiram-se inundados de lembranças. Mas quem poderia saber quais eram os pensamentos e sentimentos dos 5.000 doentes dos quais ele se havia ocupado pessoalmente, e aos quais havia dado gratuitamente sua atenção médica? Que poderia recolher as reflexões de seus concidadãos que o haviam visto afundar-se até quase se perder no esquecimento para depois erguer-se deste mundo anônimo renovado? Quem poderia expressar a gratidão das dezenas de milhares de famílias de AAs que haviam ouvido falar tanto dele, sem tê-lo conhecido pessoalmente? Quais eram as emoções das pessoas mais próximas a ele enquanto refletiam com gratidão sobre o mistério da sua recuperação há quinze anos e de suas vastas consequências? Não se poderá compreender nem a mínima parte desta grande benção. Somente se poderia dizer: “Que grande milagre, Deus realizou”.
          O Dr. Bob nunca haveria de querer que alguém o considerasse como um santo ou um super homem. Também não teria desejado que o enaltecêssemos ou que chorássemos a sua morte. Quase o podemos ouvir dizer que: “Parece-me que estão exagerando. Não me devem levar tão a sério. Eu era somente um dos primeiros elos dessa cadeia de circunstâncias providenciais que se chama A.A. Pela graça e por sorte este elo não se rompeu; apesar de meus defeitos e meus fracassos poderiam ter levado a esta desgraçada consequência. Eu era mais um alcoólico que tentava se arrumar – com a graça de Deus. Esqueçam-me, mas vão e façam o mesmo. Liguem solidamente seu próprio elo à nossa cadeia. Com a ajuda de Deus, forjem uma cadeia forte e segura”. Assim é como o Dr. Bob valorizaria a sí mesmo e nos aconselharia.
          Era um sábado do mês de maio de 1935. Encontrava-me em Akron em função de um desafortunado assunto de negócios que em seguida fracassou, deixando-me em um estado de precária sobriedade. Aquela tarde passei dando voltas de um lado para outro no saguão do Hotel Mayflower de Akron. Ao contemplar o grupo que ia se formando no bar, começou a me invadir um medo de sofrer uma recaída. Era a primeira grande tentação desde que meu amigo de Nova York me havia apresentado, em novembro de 1934, o que chegaria a ser os princípios básicos de A.A. Durante os seis meses seguintes, havia-me sentido totalmente seguro da minha sobriedade. Mas agora não havia esperança; sentia-me sozinho, desesperado. Durante os seis meses anteriores havia estado trabalhando arduamente com outros alcoólicos. Ou melhor dizendo, havia-lhes passado sermões com um tom bastante arrogante. Cheio de uma falsa segurança, tinha a impressão de não poder tropeçar. Mas desta vez, era diferente. Era necessário fazer algo imediatamente.
        
  De uma lista de igrejas colocada em uma das paredes do saguão, selecionei ao acaso o nome de um clérigo. Chamei-o pelo telefone e lhe expliquei a minha necessidade de trabalhar com um alcoólico. Embora não houvesse tido êxito com nenhum deles, percebi repentinamente que este trabalho me havia mantido livre do desejo. O clérigo deu-me uma lista de dez nomes. Ele estava certo de q1ue algum deles me poderia indicar um caso que necessitasse de ajuda. Apressei-me em ir ao meu quarto e comecei a chama-los. Porém meu entusiasmo foi diminuindo rapidamente. Das primeiras nove pessoas que chamei, nenhuma podia, ou queria, sugerir nada que pudesse satisfazer minha urgente necessidade.
          Restava somente um nome na lista – Henrietta Seiberling. Por alguma razão, não conseguia armar-me de suficiente coragem para marcar o número. Porém, depois de dar uma olhada no bar, algo em meu interior me disse: “É melhor que o faça”. Para meu grande assombro, uma voz cálida, com sotaque do sul, respondeu-me. Henrietta assegurou-me que me entendia e me perguntou se poderia ir à sua casa imediatamente.
          Em virtude de que havia enfrentado outras calamidades e superou-as, ela sem dúvida entendia a minha. Iria desempenhar um papel vital na série de acontecimentos fantásticos que rapidamente contribuiriam para o nascimento e desenvolvimento da nossa Irmandade. De todos os nomes que o serviçal pastor havia-me dado, ela era a única que havia se interessado o suficiente. Quero expressar aqui a nossa eterna gratidão.
         
 Não demorou em me contar a crítica situação do Dr. Bob e de Anne. Unindo a ação à palavra telefonou para a casa deles. Quando Anne respondeu, Henrietta me descreveu como um alcoólico sóbrio de Nova York que, tinha certeza, poderia ajudar a Bob. Aparentemente, o bom doutor havia esgotado todos os recursos médicos e espirituais para o seu problema. Em seguida Anne disse: “O que você diz Henrietta, é muito interessante. Mas receio que agora não podemos fazer mais nada. Por ser o Dia das Mães, meu querido Bob acaba de me trazer uma planta muito bonita. A planta está na mesa, mas, infelizmente, Bob está no chão. Podemos nos ver amanhã?”. Henrietta convidou-os para vir jantar no dia seguinte.
          Na tarde seguinte, as cinco em ponto, Anne e o Dr. Bob apresentaram-se na casa de Henrietta. Ela diretamente nos conduziu ao Dr. Bob e a mim, para a biblioteca. O Dr. Bob me disse: “Encantado em conhecê-lo Bill Mas acontece que não posso ficar muito tempo, somente cinco ou dez minutos, no mais tardar”. Ri, e lhe disse: “Parece que tem muita sede, não?”. Replicou-me: “Bem, parece que depois de tudo entende bem este assunto de bebida”. Dessa forma começou uma conversa que durou várias horas.
          Desta vez a minha atitude foi muito diferente. Meu medo em me embebedar havia produzido uma mais apropriada humildade. Depois de contar a minha história ao Dr. Bob, expliquei-lhe o quanto precisava dele. Se me permitisse ajuda-lo, talvez pudesse manter-me sóbrio. Assim começou a crescer para a luz a semente que iria dar nascimento a A.A. Porém, como já havia adivinhado a nossa querida Anne, esse primeiro broto era muito fácil, Era melhor que tomássemos algumas medidas práticas. Convidou-me a passar uma temporada em sua casa. Dessa maneira eu poderia vigiar o Dr. Bob e ele a mim. Esta era a chave da questão. Talvez pudéssemos fazer juntos o que não podíamos fazer sozinhos. Além do mais, era possível que pudesse reavivar esse assunto de negócios tão pouco promissor.
          Durante os três meses seguintes, vivi com este maravilhoso casal. Acreditei sempre que eles me deram mais do que eu possa ter-lhes dado. A cada manhã havia um período de recolhimento. Depois do longo silêncio, Anne lia uma pequena passagem da Bíblia. Nosso favorito era Tiago. Sentada na sua poltrona num canto da sala, terminava sua leitura dizendo suavemente: “A fé sem obras, é fé morta”.
          Mas as angústias alcoólicas do Dr. Bob ainda não haviam chegado ao fim. Tinha que assistir à Convenção Médica em Atlantic City. Em vinte anos não havia perdido nenhuma. Esperando inquietamente, Anne e eu passamos cinco dias sem ter notícias dele. Finalmente, a enfermeira de seu consultório e seu marido o encontraram uma manhã bem cedo na estação de trem de Akron em um estado algo confuso e desalinhado – para não dizer mais. Surgiu um terrível dilema. Três dias mais tarde, o Dr. Bob tinha que realizar uma delicada operação cirúrgica. Ninguém poderia substituí-lo. Simplesmente tinha que fazê-la. Mas, como íamos conseguir coloca-lo em condições de realiza-la?
          Instalaram-nos em um quarto de duas camas. Começamos pelo rotineiro processo de reduzir gradualmente a ingestão de álcool. Ninguém consegue dormir muito, mas ele cooperou. No dia da operação, às quatro da manhã, Bob olhou-me e disse: “Vou fazer isto”. Perguntei-lhe: “Quer dizer que vai realizar a operação?”, ele me respondeu: “Coloquei a operação e a mim nas mãos de Deus. Vou fazer o que for necessário para obter e manter a minha sobriedade”. Não me disse mais nenhuma palavra. Às nove da manhã, enquanto o ajudávamos a se vestir, ele lamentavelmente estava tremendo. Sentíamo-nos presos pelo pânico. Iria conseguir fazê-lo? Por estar demasiado tenso ou tremendo muito poderia operar mal o bisturi e tirar a vida de seu paciente. Arriscamo-nos. Dei-lhe uma garrafa de cerveja. Este foi o último gole que ele tomou em sua vida. Era o dia 10 de junho de 1935. O paciente sobreviveu.
          Logo apareceu nosso primeiro candidato, enviado por um pastor da vizinhança. Como o recém-chegado via-se ameaçado de perder o juízo, Anne decidiu hospedá-lo a ele e sua família – sua esposa e dois filhos. O novato era um enigma. Quando estava bebendo, tornava-se totalmente louco. Uma tarde, sentada na cozinha, Anne estava olhando-o calmamente enquanto ele brincava com uma faca. Ao sentir seu olhar fixo, ele retirou a mão. Mas não logrou sua sobriedade nesse momento. Sua mulher desesperada foi morar com seus pais e ele desapareceu. Quinze anos mais tarde voltou a aparecer para prestar sua homenagem ao Dr. Bob. Vimo-lo são e felizmente sóbrio em A.A. Em 1935 não estávamos tão acostumados com os milagres como o estamos hoje. Havíamos dado este caso por perdido.
          Então, atravessamos uma época de calma à frente do Décimo Segundo Passo. Anne e Henrietta aproveitaram essa época para infundir em Bob e em mim uma muito grata e frutífera espiritualidade. Lois tirou uns dias de descanso do seu penoso trabalho em uma grande loja de Nova York, e veio a Akron para passa férias conosco, o que nos levanto muito o moral. Começamos a assistir as reuniões do Grupo de Oxford realizadas na casa de T. Henry Williams em Akron. A devoção deste bom homem e de sua mulher brilha em nossas lembranças. Seus nomes apareceram inscritos na primeira página do livro como uns dos primeiros e melhores amigos de A.A.
          Um dia o Dr. Bob me disse: “Você não acha que deveríamos começar a trabalhar com alguns bêbados?”. Telefonou para a enfermeira encarregada das admissões no Hospital Municipal de Akron e explicou-lhe que ele e outro bêbado de Nova York tinham um remédio para o alcoolismo. O vi ruborizar-se e desconsertar-se um pouco. A enfermeira havia comentado: “Bem doutor, o senhor já se submeteu a esse tratamento?”.
          Contudo, a enfermeira nos enviou um cliente. Disse-nos que era um tipo difícil. Tratava-se de um eminente advogado de Akron, que havia perdido quase tudo. Nos últimos quatro meses, havia estado seis vezes no hospital. Tinha chegado naquele momento; acabava de atropelar uma enfermeira que ele havia confundido com um elefante rosa; “Servirá para os senhores?”, perguntou-nos. O Dr. Bob disse-lhe: “Instale-o em um quarto particular. Quando melhorar o visitaremos”.
          Pouco tempo depois o Dr. Bob e eu encontramo-nos contemplando um quadro que, desde então, dezenas de milhares de nós voltaríamos a contemplar: o de um homem sentado na cama e que ainda não se apercebeu de que se pode recuperar. Explicamos-lhe a natureza da sua doença, e lhe contamos a nossa própria história de bebedores e de recuperação. Porém, o doente, sacudindo a cabeça, nos disse: “Parece que os rapazes passaram muito mal. Porém nunca estiveram tão mal como eu estou neste momento. Agora é muito tarde para mim. Não me atrevo a sair daqui. Sou também um homem de fé: costumavam ser diácono na minha igreja. Ainda tenho fé em Deus, mas parece que Deus não bota fé em mim. O álcool me venceu; não tenho mais solução. Mas voltem a me visitar. Gostaria de falar mais com os senhores”.
          Em nossa segunda visita, ao entrar no quarto do enfermo, vimos uma mulher sentada ao pé da cama. Estava dizendo: “O que lhe aconteceu marido? Você tem um aspecto muito diferente. Sinto-me muito aliviada”. O homem olhou para nós e disse aos gritos: “Aqui estão, eles me compreendem. Ontem depois que se foram, não conseguia tirar da cabeça o que me haviam dito. Passei a noite sem dormir. Depois me veio a esperança. Se eles conseguiram encontrar sua libertação, eu também posso fazê-lo. Cheguei a estar disposto a ser sincero comigo mesmo, a reparar os danos que causei e a ajudar outros alcoólicos. Quando pensei nisso, senti-me transformado. Sabia que iria ficar bem”. O homem na cama continuava falando: “Agora minha querida mulher, traga-me as minhas roupas. Vou me levantar e vamos sair daqui”. Dito isto, o AA número três levantou-se da cama, para nunca mais voltar a beber. A semente de A.A. havia germinado outra vez, e outro broto surgiu no novo terreno. Embora ainda não o soubéssemos, já estava em flor. Éramos três ali reunidos. E o Grupo Número Um de Akron havia-se tornado realidade.
          Nós três trabalhamos com centenas de alcoólicos. Eram muitos os chamados e poucos os escolhidos. O fracasso nos acompanhava diariamente. Entretanto, quando fui embora de Akron, em setembro de 1935, parece que mais dois ou três doentes tinham-se unido a nós definitivamente.
           Os dois anos seguintes de nossa época pioneira constituíram o período de “voar às cegas”. Com seu aguçado instinto de médico, o Dr. Bob continuava atendendo e introduzindo a cada novo caso, primeiro no Hospital Municipal de Akron e depois, durante os doze anos seguintes, no Hospital Santo Tomás, onde milhares de enfermos contavam com sua cuidadosa vigilância e o seu toque especial de A.A. Embora não fossem seus correligionários, o pessoal e as irmãs que trabalhavam com ele operavam verdadeiros milagres. Ofereceram-nos um dos mais brilhantes exemplos de amor e de dedicação que os AAs jamais haviam conhecido. Dirigiam-se aos milhares de visitantes e pacientes AAs – aos que realmente o sabem, perguntando-lhes qual era a sua opinião sobre a Irmã Inácia do Santo Tomás. Ou sobre o Dr. Bob. Bem, estou-me antecipando.
          Enquanto isso, um pequeno Grupo havia-se formado em Nova York. As reuniões de Akron na casa de T. Henry começaram a atrair alguns visitantes de Cleveland. Nessa conjuntura, passei umas semanas visitando o Dr. Bob. Pusemo-nos a contar quantos dentre as centenas de alcoólicos tinham ficado? Quantos se haviam mantido sóbrios? E, por quanto tempo? Nesse outono de 1937, o Dr. Bob e eu calculamos que havia uns quarenta casos que tinham um tempo considerável de abstinência – contando o tempo de todos talvez somassem um total de sessenta anos de sobriedade. Brotaram-nos lágrimas de alegria. Tinha passado uma quantidade suficiente de tempo com uma quantidade suficiente de casos que indicava que algo novo – e talvez muito significativo, estava acontecendo. De repente, o céu se desanuviou. Já não voávamos às cegas. Havia-se acendido um farol. Deus havia ensinado aos alcoólicos a transmiti-lo de mão em mão. Não esquecerei nunca esse momento de súbita e humilde compreensão na companhia do Dr. Bob.
          Mas essa nova compreensão apresentou-nos um grande problema, víamo-nos tendo que tomar uma decisão de imensa envergadura. Havíamos demorado quase três anos para realizar quarenta recuperações. Porém, apenas nos EUA havia um milhão de alcoólicos. Como íamos comunicar-lhes nossa mensagem? Não seria por acaso necessário, termos trabalhadores assalariados, nossos próprios hospitais e grande quantidade de dinheiro? Sem dúvida teríamos que reeditar um livro de textos. Seria sensato irmos a passo de tartaruga enquanto nossa mensagem fosse se desvirtuando e talvez milhares de alcoólicos morressem? Que dilema.
          A forma como conseguimos nos livrar do profissionalismo, da riqueza e da administração de bens importantes, e como finalmente nos arranjamos para publicar o livro Alcoólicos Anônimos, por si só, é uma história. Mas nessa época crítica, os conselhos prudentes do Dr. Bob com frequência nos detiveram para que não nos lançássemos em empreendimentos precipitados que poderiam ter retardado nosso desenvolvimento durante anos e inclusive ter-nos arruinado. Também não ´podemos esquecer a dedicação que tiveram o Dr. Bob e Jim S. (que faleceu no verão passado) em sua tarefa para recolher histórias para o livro de A.A.: três de cada cinco destas histórias provinham de Akron. O interesse e a sabedoria do Dr. Bob foram fatores de primordial importância naquela época de graves dúvidas e graves decisões.
           Quando nos regozijamos de que Anne e o Dr. Bob tenham vivido suficiente para que chegasse a todas as partes da Terra, aquela luz que se acendeu em Akron; de que se dessem conta de que algum dia milhões de pessoas poderiam passar por debaixo desse arco cada vez mais amplo cuja base eles também haviam ajudado a esculpir. Entretanto, estou seguro de que eles, por serem tão humildes, nunca chegaram a formar uma ideia clara da magnitude do legado que nos deixaram, nem como cumpriram bem sua tarefa. Fizeram tudo que tinham que fazer. O Dr. Bob inclusive teve a oportunidade de ver a Irmandade chegar à sua maioridade, quando, pela última vez, dirigiu a palavra a 7.000 alcoólicos (N.T.: historiadores coincidem em relatar este número como sendo entre três e três mil e quinhentos participantes) reunidos em Cleveland.
          Vi o Dr. Bob no domingo anterior à sua morte. Porém, menos de um mês antes, ele tinha-me ajudado a formular uma proposta para a Conferência de Serviços Gerais de alcoólicos Anônimos, o Terceiro Legado de A.A. Este legado, em forma de folheto, estava na gráfica quando ele se despediu de nós pela última vez na quinta feira seguinte. Por representar seu último gesto e desejo para os AAs, este documento terá para nós um grande e especial significado.
          Não tive uma relação parecida com esta com nenhum ser humano. A coisa mais bela que eu posso dizer é que, durante todos os anos, muitas vezes difíceis para nossa Irmandade, ele e eu nunca tivemos uma penosa diferença de opinião. Seu espírito fraternal e a sua capacidade para o amor estavam fora do meu alcance.
          Para terminar, permitam-me que lhes ofereça um último e comovedor exemplo de sua simplicidade e humildade. Por muito estranho que pareça, é uma história que fala de um monumento – um monumento que se propôs erguer em sua homenagem. Faz um ano, quando Anne morreu, muitos companheiros acharam apropriado que lhe fosse dedicado um monumento comemorativo. As pessoas insistiam em que fosse feito algo dessa índole. Ao chegarem esses rumores aos ouvidos do Dr. Bob, ele não demorou em se manifestar contrário à ideia de que os AAs erguessem um mausoléu para ele e Anne. Com apenas uma frase convincente, expressou serenamente seu horror aos símbolos em homenagem pessoal. Disse: “Anne e eu queremos ser enterrados como uma pessoa qualquer”.
          Entretanto, no pavilhão dos alcoólicos do Hospital Santo Tomás, seus amigos colocaram uma placa simples que diz: “Com gratidão, os amigos do Dr. Bob e Anne Smith, afetuosamente dedicamos esta placa comemorativa para as irmãs e pessoal do Hospital Santo Tomás. Em Akron, o local de nascimento de Alcoólicos Anônimos, o hospital Santo Tomás foi a primeira instituição religiosa a abrir as portas para a nossa Irmandade. Que a carinhosa dedicação daqueles que aqui trabalhavam em nossa época pioneira constitua sempre para todos nós um ilustre e maravilhoso exemplo da graça de Deus”.
http://www.barefootsworld.net/aa-drbobgv011951.html
http://www.barefootsworld.net/amweeklydrbob1951.html
Também pode ler a partir da página 416 de “A Linguagem do Coração”, Junaab, código 104.

A despedida do Dr. Bob

Meus bons amigos em A.A. e de A.A.:
Sinto uma grande vibração ao olhar o vasto mar de rostos como esse, com a sensação de que possivelmente uma pequena coisa que fiz há alguns anos, teve papel infinitamente pequeno para fazer com que fosse possível este encontro.
Também me bem um grande estremecimento quando penso que todos tivemos o mesmo problema. Todos fizemos as mesmas coisas. Todos conseguimos os mesmos resultados em proporção ao nosso zelo, entusiasmo e capacidade de aderir.
Se vocês me perdoam a inclusão de uma nota pessoal neste momento, permitam-me dizer que tenho estado acamado por cinco dos últimos sete meses, e minhas forças não retornaram como eu gostaria, assim por necessidade, minhas observações serão muito breves.
Há duas ou três coisas que irromperam em minha mente sobre as quais seria apropriado colocar um pouco de ênfase. Uma é a simplicidade de nosso programa. Não vamos estragar tudo com complexos freudianos e coisas que são de interesse para a mente científica, mas tem muito pouco a ver com nosso verdadeiro trabalho de A.A. Nossos Doze Passos, quando resumidos até o último, podem ser condensados nas palavras ‘amor’ e ‘serviço’. Entendemos o que é o amor, e entendemos o que é o serviço. Então, vamos manter essas duas coisas em mente.
Vamos, também, lembrar de guardar esse membro errante que é a língua, e se temos de usá-la, vamos usá-la com bondade, consideração e tolerância.
E mais uma coisa: Nenhum de nós estaria aqui hoje se alguém não tivesse tomado seu tempo para explicar as coisas a nós, para nos dar uma palmadinha nas costas, para nos levar a uma reunião ou duas, para fazer em nosso benefício numerosas pequenas ações generosas e atenciosas. Por isso não permitam nunca que cheguemos a um grau de complacência tal que nos impeça de estarmos dispostos a estender, ou tentar estender a nossos irmãos menos afortunados, essa ajuda que tem sido tão benéfica para nós.
                                          Muito obrigado.





Considerações feitas pelo Dr. Bob na abertura da Primeira Convenção Internacional de Cleveland, em 28 de julho de 1950, perante mais de três mil pessoas. Foi sua última aparição pública.
Dr. Bob nasceu em St. Johnsbury, Vermont, EUA, em oito de agosto de 1879; morreu em Akron, Ohio, EUA, no dia 16 de novembro de 1950, aos 71 anos de idade, em decorrência de um câncer no cólon. Repousa ao lado de sua mulher Anne, morta em 01.06.1949 e tida por Bill W. como a “mãe de A.A.”, no cemitério Mount Peace em Akron.

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