Box 4-5-9, Ago. Set./1988 (pág. 1 a 3) => http://www.aa.org/newsletters/es_ES/sp_box459_aug-sept88.pdf
Título original: “¿Ha
pensado recientemente en el anonimato?”
Uma
recente onda de rupturas de anonimato levou à formação de um subcomitê especial
do Comitê de Informação Pública dos Custódio. A este comitê foi-lhe designada
uma tarefa interessante e um tanto curiosa.
Como disse um membro do novo grupo
na sua primeira reunião: “estaremos
procurando um meio para lembrar aos alcoólicos de todos os lugares, algo que a
maioria de nós já sabe – mas do qual raramente falamos, ou seja, que, para os
alcoólicos sóbrios, a prática do anonimato deveria ser tão agradável e
emocionante quanto a própria sobriedade”
Tendo iniciado os trabalhos em abril
do presente ano (1988), os dez
homens e mulheres do subcomitê estão estudando as diversas maneiras em que se
quebra o anonimato, assim como os possíveis meios através dos quais essas
quebras, tanto as intencionais – se as houver, como as não intencionais – como
parece ser a maioria delas, podem ser evitadas.
Além do mais, diferentemente da
maior parte dos esforços acordados que no passado focavam o anonimato, esta
campanha não está dirigida aos meios de comunicação nem a nenhum indivíduo ou
grupo fora da Irmandade, mas, unicamente aos membros de A.A. Desta vez, a
proposta a de considerar com carinho o presente brilhante do anonimato, e de
solicitar a ajuda dos AAs de todos os lugares, para que perdure a proteção de
sua promessa, seu prazer e seu poder.
Ao abordar o problema, alguns
membros do comitê se lembraram de ocasiões em que seu próprio anonimato poderia
ter sido quebrado, ou quase. Conseguiram mantê-lo porque perceberam de repente
o que estavam fazendo, ou o que estavam a ponto de fazer.
Um membro, por exemplo, falou da sua
associação com uma universidade onde, como alcoólico e membro de A.A., servia
como membro de uma junta consultiva que tinha planejado um novo curso que iria
fazer parte do programa de estudos da instituição – o estudo e o tratamento do
alcoolismo.
“Depois
de aprovado o curso”, disse este membro do comitê, “seria publicado um panfleto a respeito do mesmo onde iria constar meu
nome como membro da junta consultiva. Uma funcionária da universidade me
telefonou querendo saber quais eram minhas credenciais – por suposto, minha
credencial profissional.
Infelizmente, nessa mesma semana
perdi meu posto; entretanto, para atender à funcionária, assim como à
universidade, dei como subsidio minhas ‘credenciais’ em A.A. – coordenador de tal comitê ou tal
junta, etc., o qual nos pareceu satisfatório tanto à universidade como a mim
próprio.
Passados alguns minutos após
desligar o telefone, tive a estranha sensação de que havia alguma coisa
inadequada naquilo que tinha feito. De
repente, ‘a ficha caiu’...
Telefonei à funcionaria e lhe disse que não poderia utilizar as credenciais que
lhe tinha dado, uma vez que ao fazê-lo estaria quebrando meu anonimato diante
do público. Não havia inconveniente algum em que ela soubesse minha afiliação a
Alcoólicos Anônimos; mas, esta afiliação não deveria aparecer num panfleto
disponível ao público. Sua resposta foi: ‘sabia que me ligaria prontamente.
Essas credenciais de A.A. tampouco me pareceram indicadas’”.
Uma
lição que pode ser extraída desta anedota é que se não temos sempre presente a
ideia, o propósito e o valor do anonimato, qualquer um de nós pode,
inadvertidamente, quebrar seu anonimato.
Entre
outras experiências compartilhadas na sala, foi contada uma bastante curiosa
que tinha a ver com um artigo a respeito das mulheres e o alcoolismo publicado
na revista Family Circle. O
Escritório de Serviços Gerais – ESG tinha pedido ao membro em questão para
participar de uma entrevista e documentar o artigo, e ela consentiu com prazer.
“De fato”, disse, “estava pessoalmente encantada por ter sido
escolhida para essa importante tarefa”.
De
acordo com a companheira, o escritor, por respeito ao seu anonimato pessoal,
lhe deu outro nome e idade e mudou todas as informações pessoais, de tal
maneira que, quando apareceu o artigo “tinha
outro nome – Ruth, uma idade diferente – 53 anos, e um tempo de sobriedade um
pouco mais curto que o verdadeiro. Na realidade, todo o que se referia a mim
tinha mudado, com exceção da minha história de desespero e libertação que foi
apresentada com todo detalhe e fidelidade”.
Agora
vem o curioso desta experiência: “Pouco
tempo depois da publicação do artigo, uma mulher que já me tinha ouvido falar
várias vezes, me chamou e, a pesar de todas as mudanças dos dados específicos,
perguntou-me ‘é sua a história que aparece na revista Family Circle? ’. Ela soube
quem tinha sido entrevistada.
Passado um mês, chegou uma carta ao
ESG encaminhada à minha atenção. Vinha de uma mulher canadense e na carta dizia
que seu nome também era Ruth e que também tinha 53 anos e queria agradecer à
tal Ruth da história publicada na Family Circle porque tinha recebido tanta
inspiração que agora tinha o que descreveu como
‘três belíssimas semanas de sobriedade’”.
Depois
surgiu o poderoso significado deste breve relato: “Obviamente, o verdadeiramente importante da minha história
manifestou-se sem envolver meu ego nem meu nome pessoal. Ajudei outra pessoa e
mantive meu anonimato. Entretanto, foi uma felicidade que quase estraguei
porque estive planejando responder pessoalmente à mulher; recomendaram-me que
não o fizesse. Recomendação acertada!”.
“Entretanto”,
o membro do comitê disse concluindo “ainda
sinto uma grande satisfação toda vez que lembro que um artigo a respeito de mim
própria – mas que não expunha minha identidade, atraiu atenção e teve efeitos
positivos. E cada a cada vez que me lembro volto a sentir a alegria misteriosa,
mas poderosa, do anonimato”
Alguns outros membros do subcomitê
tinham histórias interessantes para contar, todas relacionadas com o fato de
ter revelado a outra pessoa o fato de serem alcoólicos ou membros de A.A. Um
deles, seguindo a recomendação de um companheiro de A.A., advertiu seu dentista
que, por ser alcoólico, não poderia tomar determinado medicamento sem correr
perigo. A única resposta do dentista foi a de insistir no pagamento integral
antes de continuar com o tratamento. (Fica claro que, embora tenha comunicado o
aviso apropriado, este acabou sendo distorcido por quem o recebeu).
Outro membro do subcomitê relatou
uma situação parecida onde houve uma resposta diferente. Seu chefe imediato na
empresa em que trabalhava sabia desde o início que ele era membro de A.A. e que
era tão atuante no serviço de A.A. que em determinados dias não podia fazer
horas extras. Mais tarde, quando surgiu um problema alcoólico com um alto
executivo da companhia, esse chefe pediu, e prontamente recebeu permissão, para
dizer ao presidente que a ajuda de A.A. encontrava-se à disposição na empresa
mesmo.
Depois de se entrevistar com o
presidente, o chefe voltou para informar a resposta daquele alto executivo à
noticia de que havia entre os funcionários um membro de A.A. Era (e o citou
diretamente) “Eu sabia que esse tipo
tinha algo de especial”.
Certamente, alguns de nós revelamos
a outras pessoas que tínhamos feito algo a respeito do nosso alcoolismo sem
precisar dizer palavra alguma. Simplesmente se percebe. Assim foi com um membro
do subcomitê que relatou uma comovente história que tinha começado com uma
chamada feita pelo porteiro do deu edifício através do interfone do seu
apartamento. O membro em questão morava no prédio desde cinco anos antes de
ingressar em A.A. e agora contava cinco anos de sobriedade.
Falando pelo interfone, o porteiro disse com
alguma hesitação: “Não sei precisamente
como lhe dizer, mas, parece que faz alguns anos o senhor tinha um problema que
agora não tem. Espero que não se sinta ofendido se lhe perguntasse se tenho
razão, e se a tenho, me permitiria que lhe perguntasse o que fez a respeito
daquele problema? Temos um funcionário no prédio que tem um problema e talvez o
senhor possa ajuda-lo”.
O seguinte e feliz episódio desta
história diz que, é claro, que tinha o problema obteve ajuda; e o feliz
resultado, pelo menos até a data, conta como agora aquele funcionário, depois
de uns quantos anos ainda está sóbrio e é um membro dedicado de A.A.
Tão significativo quanto este, é
outro aspecto da história. O anonimato deste membro de A.A. não foi quebrado,
nem sequer a nível pessoal, pelas suas palavras, mas, simplesmente por estar
sóbrio. Foi a mudança de comportamento e da sua aparência que o “denunciaram”. Este é o caso de um
membro que leva a mensagem sendo a
mensagem, sem dizer uma palavra a respeito dele. Não fez nada até que lhe foi
pedida ajuda.
Na medida em que continuava a
discussão, outro membro do subcomitê explicou como, em algumas situações de
trabalho, a quebra do anonimato pode causar problemas graves. Este alcoólico, um
produtor de televisão, ofereceu-se para documentar um programa proposto a
respeito do alcoolismo e a adição às drogas.
Ao apresentar quase sem demora
material suficiente parta uma dúzia de episódios, o chefe da produção
perguntou-lhe como se havia tornado erudito com tanta rapidez, e ele respondeu
um pouco relutante, que era membro de A.A.
“Formidável!”,
respondeu o chefe. “Assim, podemos focar
o assunto desde dentro”.
Embora a proposta preocupasse o
membro, podia racionalizá-lo – e ao que parece, com bastante razão, pensando
que as precauções que se referem à quebra do anonimato ao nível da imprensa, da
rádio, da televisão e do cinema, apenas têm a ver com, por exemplo, aparecer na
televisão, não trabalhar na mesma. E o seu trabalho era simplesmente redigir o
roteiro, indicar os participantes convidados, etc.; ele não iria aparecer na
tela.
Entretanto, conforme ia realizando
sua tarefa percebeu que não podia ser objetivo enquanto à matéria. Por exemplo,
não podia tolerar opiniões a respeito de A.A. e o alcoolismo que diferiam das
suas e da experiência de outros membros do programa. Isto levou a argumentações
acaloradas, por vezes desagradáveis, e, sem duvida improdutivos com o chefe da
produção.
Para resolver o problema, foi
necessário encomendar o projeto a outro produtor, uma pessoa que nunca tinha
trabalhado em um programa a respeito do alcoolismo e que sabia muito pouco a
respeito da doença. Entretanto, conforme lembra o membro de A.A., o novo
produtor era um profissional muito competente, que aprendeu rapidamente, e o
programa acabou tendo muito sucesso. “Um
exemplo de reportagem televisiva de primeira categoria que ajudou muitas
pessoas”. Ao que acrescentou, “Eu não
poderia tê-lo feito melhor”.
Atualmente, este membro ainda é
produtor, mas já não se mete na corrente principal da preparação e produção de
programas a respeito do alcoolismo. Cada vez mais colegas de trabalho sabem que
é membro de A.A., porém oferece suas opiniões ou sugestões apena se lhe forem
pedidas. “Já não trato de fazer reportagens objetivas a respeito de Alcoólicos
Anônimos. Consegui perceber com clareza que não há maneira de ser objetivo
quando se trata de algo que salvou a minha vida”.
É possível que os membros do
subcomitê, pelo fato de haverem tido experiências no anonimato muito diferentes
umas das outras, tenham uma ampla variedade de opiniões sobre como se dirigir à
Irmandade com referencia a esse assunto. Entretanto, um ponto que o subcomitê
esta de acordo por unanimidade é que a nível de Grupo – o nível mais importante
dentro de A.A., parece que se dedica pouco tempo e pouca discussão ao anonimato
e à sua importância tanto para o programa como para os membros individuais.
Assim, o plano inicial do subcomitê será o de procurar e colocar em pratica
algumas formas de provocar “um pequeno
renascimento do entusiasmo” a respeito do anonimato, e baseados nisso
ampliar os esforços.
Para começar, o subcomitê espera
poder recolher uma pequena “biblioteca”
de histórias, contadas por membros, que tratem das suas experiências de anonimato:
as quebras que por pouco não aconteceram; as não intencionais tanto a nível
pessoal como ao nível público, e as consequências destas revelações. Espera-se
também obter histórias daqueles que descobriram os benefícios do anonimato, a
verdadeira alegria que vem de passar a mensagem de uma maneira serena e
discreta, e a grande satisfação que sempre segue ao ato de dar sem esperar nada
em troca, nem sequer o reconhecimento.
Tem alguma história para contar a
respeito do anonimato? Uma experiência pessoal a esse respeito que queira
compartilhar? Escreva a: Subcommittee on Anonymity, Box 459, Grand Central Station, New York,
NY 10163. Os membros do comitê aguardam suas noticias.
Precisamos da sua ajuda. E parece que o anonimato também.
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