Box 4-5-9, Primavera (março) 2012 (pág. 3-4) => http://www.aa.org/newsletters/es_ES/sp_box459_spring12.pdf
Título original: ‘Me llamo… y soy
alcohólico’.
Eis uma das frases mais ouvidas nas
reuniões de A.A. em quase todos os lugares do mundo. Mas, de onde vem? Por que
a dizemos? E, devemos continuar a fazê-lo?
Parece
claro que a identificação é um conceito importante em A.A. Na realidade,
podemos considerá-la a chave da filosofia de A.A. – um alcoólico ajudando a
outro alcoólico.
Entretanto,
por se tratar de uma Irmandade com grande variedade de sugestões, mas sem
regras oficiais, é necessário que uma pessoa diga, como muitos dizem ao
apresentar-se em uma reunião, que é alcoólica?
Nos
primeiros anos de formação de A.A., Bill W., um de seus cofundadores, se
debatia com a dúvida referente a esta questão e escrevia com frequência a
respeito do dilema que enfrentavam os recém-chegados enquanto lidavam com a
doença, talvez pela primeira vez e no contexto relativamente público de uma
reunião de A.A.
Bill
argumentava de forma incisiva que devia ser oferecida ao recém-chegado a maior
liberdade possível para decidir como e quando se identificaria como alcoólico.
Em um artigo escrito para a Grapevine
com o título “Quem é membro de Alcoólicos
Anônimos?” – artigo este que mais tarde iria formar a base da Terceira
Tradição, Bill comentou: “Esta é a razão
pela qual julgamos cada vez menos o recém-chegado. Se para ele o álcool é um
problema incontrolável, e ele quer fazer algo a respeito, não lhe requeremos
mais… Atualmente, na maioria dos Grupos, nem sequer é preciso dizer que é
alcoólico. Qualquer um pode-se juntar a A.A., apenas suspeitando que seja
alcoólico ou que já perceba os sintomas mortais da nossa doença”.
Bill
esclareceu ainda mais sua opinião nas palavras que aparecem no folheto “As Doze Tradições ilustradas” (Junaab,
código 106, R$ 6,00), na seção que trata da Terceira Tradição: “Quem decide se o recém-chegado é ou não
qualificado? Se quer mesmo parar de beber? Ninguém, obviamente, exceto o
próprio recém-chegado; todos os demais simplesmente têm que aceitar sua
palavra. Na realidade, ele não tem sequer que afirmar isso em voz alta. E isso
foi uma sorte para muitos de nós, que chegamos em A.A. apenas com um vago
desejo de ficarmos sóbrios. Estamos vivos porque o caminho de A.A. se manteve
aberto para nós”.
Ao
se apresentar para falar, Bill W., muito raramente - para não dizer nunca, se
identificava como alcoólico, e não há nada na literatura de A.A. aprovada pela
Conferência (EUA/Canadá), que indique como os membros devem apresentar-se nas
reuniões de A.A., nem sequer que seja necessário fazê-lo. Entretanto, nos dias
de hoje, pode haver momentos muito tensos nas reuniões quando um membro não se
apresenta como “alcoólico/a” ou, mais
tensos ainda, quando se complementa essa identificação com palavras tais como “sou um alcoólico cruzado”, “sou adicto” ou “alcoólico e dependente de outras drogas”.
Muitos
membros acreditam que essas complementações são preocupantes porque podem
representar uma ameaça à nossa unidade e unicidade de propósito. Em um artigo
publicado em janeiro de 1990 na revista Grapevine, Rosemary P., antiga delegada
de Pittsford, Nova York, escreveu: “Quando
em um evento de A.A. digo que sou ‘alcoólica e dependente de outras drogas’ ou ‘dependente cruzada’, estou-lhes dizendo que sou um caso especial
de bêbada, que meu alcoolismo é diferente do seu. Estou dando uma dimensão
extra à minha doença – dimensão esta que, dada a unicidade de propósito, não é
apropriado mencionar em uma reunião de A.A. Quebrei nosso vínculo pela metade
e, mais importante ainda, diluí meu próprio propósito para estar ali”.
Mas,
de onde veio este costume de identificar-se como alcoólico/a e como acabou por
se gravar tão indelevelmente na paisagem de A.A. do século XXI?
Da
mesma maneira que em outros assuntos relacionados com A.A., ninguém sabe com
segurança qual foi a origem deste costume e já com muito poucos pioneiros ainda
entre nós, poucos são aqueles que podem oferecer alguma pista plausível, e além
destas pistas, há apenas especulações.
Entretanto, de acordo com uma amiga de
A.A. desde seus primeiros tempos, Henrietta
Seiberling, a expressão remonta às reuniões do Grupo de Oxford que tiveram
seu apogeu no começo da década de 1930.
A Sra. Seiberling, não alcoólica, frequentava o Grupo de Oxford em Akron, em
busca de ajuda espiritual e foi ela que arranjou o primeiro encontro entre Bill
W., e o Dr. Bob, que naquele momento estava tentando se esforçar para lidar com
seu problema com a bebida também frequentando o mesmo grupo que Henrietta.
Nessas pequenas reuniões, todos os participantes se conheciam e não tinham
necessidade de se identificar. Porém, nas grandes reuniões “públicas”, onde os participantes “testemunhavam” - de maneira muito parecida com a que os membros de
A.A. fazem atualmente em suas reuniões regulares, chegou a ser preciso se
identificar. É possível que em algum momento alguém tenha dito “eu sou alcoólico”, porém, a Sra.
Seiberling não estava muito segura de que tenha sido assim. Nem se lembrou de
ter ouvido a frase nas primeiras reuniões de A.A. celebradas em Akron, ainda
antes da publicação do Livro Grande (nosso Livro Azul).
Um membro de Nova York da época
pioneira se lembra de ter ouvido a frase em algum momento depois da Segunda
Guerra Mundial, em 1945 ou 1946; mas, sabe-se com certeza que em 1947 foi produzido um documentário para
A.A., pela RKO Pathe, com o título “I
am an alcoholic” ou, “Eu sou um
alcoólico”, o que dá credibilidade à ideia de já naquele tempo, nos
círculos de recuperação, a frase era reconhecível.
Desde então a frase foi-se arraigando
até se converter em um protocolo, um elemento quase obrigatório do léxico da
recuperação e, com suas diversas alternativas e permutações auto reveladoras,
se transformou numa forma um tanto quanto controvertida de se apresentar nas
reuniões.
Atualmente, muitos acreditam que a
solução do conflito que alguns sentem ao ouvir seus companheiros se
apresentarem como “adictos”, ou com
outros termos além do simples “alcoólico”,
irá ser encontrada dentro da própria Irmandade.
Rosemary P. disse: “Cabe a cada um de nós mantermos intacto nosso programa, repassá-lo ao recém-chegado
tal como o passaram para nós. E, também muito importante, fazer isso com
explicações pacientes, tolerância diante das diferenças – e mais explicações
pacientes. Acredito que, através do apadrinhamento comprometido, Grupos base
sólidos e serviço ativo, os novos membros irão aprender a ser parte integrante
de A.A. e não um fragmento”.
A outros lhes irá parecer mais
importante a sinceridade e a reflexão a respeito do que “verdadeiramente são”, ao se apresentar numa reunião; outros ainda,
acreditam na importância de manter os problemas separados e tratá-los nos
programas e Irmandades criadas para suas respectivas finalidades: Narcóticos
Anônimos para adictos a outras substâncias além do álcool, Comedores
Compulsivos Anônimos para os adictos incontroláveis à comida, etc. Há ainda
aqueles que não lhes parece muito importante a forma utilizada nas
apresentações, seja como “adictos” ou
como “alcoólicos” e propõem que os
participantes se identifiquem simplesmente como “membro de A.A.”, já que, por definição, todos os membros de A.A.
são “alcoólicos”.
Chegar ao equilíbrio entre estas
posições é um constante exercício de humildade, confiança e aceitação no seio
da Irmandade, enquanto os membros buscam ser inclusivos e ao mesmo tempo
reconhecer os vínculos singulares do alcoolismo que nos mantém conectados a
todos.
Como está expresso no Livro Azul,
capítulo “Entrando em Ação”, página
113/1/2: “Entramos no mundo do Espírito.
Nossa próxima tarefa é cultivar a compreensão e a eficiência. Não é algo que se
consiga da noite para o dia. Deve continuar por toda a nossa vida.
Continuaremos a tomar cuidado com o egoísmo, a desonestidade, o ressentimento e
o medo. Quando aparecem, pedimos imediatamente a Deus para removê-los. Sem
perda de tempo, falamos a respeito deles com alguém e, se magoamos outra
pessoa, fazemos logo uma reparação. Então, com firmeza, voltamos nossos
pensamentos para alguém a quem possamos ajudar. O amor e a tolerância para com
os outros é o nosso código”.
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