Box 4-5-9, Primavera 2011 (pág. 1-2) => http://www.aa.org/newsletters/es_ES/sp_box459_spring11.pdf
Título original: “‘Los
hijos del caos’: El nacimiento de las Tradiciones de A.A.”
“Os aproveitadores se aproveitavam, os solitários lamentavam sua
solidão, os comitês entravam em disputa, os novos clubes enfrentavam
dificuldades inesperadas, os oradores praticavam o charlatanismo, os grupos
eram desgarrados pelas controvérsias, os membros se convertiam em profissionais
e vendiam o movimento; por vezes grupos inteiros se embriagavam e as relações
públicas locais chegaram a ser um escândalo”. (A linguagem do Coração).
Assim era a situação em alguns dos
Grupos da incipiente Irmandade na época pioneira de A.A. conforme Bill W. Com
pouca ou nenhuma experiência na nova e exigente aventura da sobriedade, os
Grupos de A.A. voavam às cegas.
O programa de recuperação de A.A., tal
como expresso nos Doze Passos expostos no Livro Grande (Livro Azul, no Brasil),
alastrava-se como fogo – de um alcoólico para outro, por todo o país (EUA) e
inclusive em países de ultramar. Com reportagens favoráveis em vários meios de
comunicação e o crescente apoio da medicina e da religião, A.A. foi sendo cada
vez mais conhecida. Alcoólicos estavam conseguindo sobriedade e essas boas
novas difundiam-se rapidamente.
Entretanto, os recém-criados Grupos
dispunham de poucos recursos para seu apoio e orientação, com exceção do
profundo desejo de seus membros individualmente se manterem sóbrios. Tudo tinha
que ser definido dia após dia e baseados na experiência pessoal e individual
por meio de um sistema de tentativas, aprendendo com os erros e assim descobrir
o que funcionava ou não. Regras foram criadas para em seguida serem quebradas,
estabeleceram-se normas que logo foram descartadas, e inevitavelmente, surgiram
disputas, muitas vezes acirradas, referentes às relações dos próprios membros,
uns com os outros, e com o mundo exterior.
Nas primeiras décadas de A.A., havia
muitos problemas para enfrentar e, na medida em que a quantidade de membros
aumentava a cada ano, os desafios decorrentes para viver e trabalhar juntos,
não apenas como indivíduos, mas também como Grupos, iam-se empilhando. O
sucesso e a maior visibilidade vinham acompanhados de suspeitas, ciúmes e
ressentimento. Havia conflitos relacionados com todos os assuntos imagináveis:
o uso do dinheiro, as operações dos clubes, o uso inapropriado do nome de A.A.,
a liderança e os romances.
Os costumes nas reuniões variavam de um
Grupo para outro; algumas reuniões eram compostas principalmente por bêbados de
classes mais baixas; outras davam preferência aos bêbados das classes mais
altas; alguns Grupos permitiam a volta de quem tinha recaído, enquanto outros
acreditavam que essas pessoas deveriam ser excomungadas. “Parecia que cada participante em cada desacordo dos Grupos de todo o
país, nos estivesse escrevendo durante esse confuso e apaixonado período”, disse
Bill W. em ‘A.A. Atinge a Maioridade’.
Os problemas descritos por esses membros ameaçavam tumultuar a Irmandade
nascente e numa carta de 1950
dirigida a um membro de A.A. de Michigan, Bill W. disse: “Quando chegavam à minha mesa no escritório as cartas em que descreviam
as dores de crescimento dos primeiros Grupos, passava a noite deitado na cama
sem poder conciliar o sono. Parecia-me que as forças da desintegração iam
desgarrar nossos Grupos pioneiros...”.
Alcoólicos Anônimos não foi a primeira
Irmandade que embarcou à deriva nas armadilhas e nos conflitos gerados pelo
sucesso perigoso. A Sociedade Washingtoniana (*), um movimento criado quase um século
antes (em abril de 1840) e dedicado
ao resgate de bêbados quase havia descoberto a solução para o problema do
alcoolismo. Em seu começo, a sociedade, que se originou em Baltimore, estava
composta somente por alcoólicos que se esforçavam para se ajudar os uns a os
outros. Tiveram considerável sucesso e o movimento prosperou alcançando mais de
500.000 membros. Porém, os Washingtonianos deixaram que políticos e reformadores, alcoólicos e não alcoólicos
fizessem uso da sociedade para seus próprios fins e, em que pesem suas
intenções expressas de não se meter na política, na religião e no comercio,
muitos membros adotaram publicamente posturas opostas em questões de reforma de
políticas referentes ao alcoolismo e outros assuntos do dia a dia. Num prazo de
oito a nove anos, segundo reportagens da época, perderam seu atrativo. No banquete anual de A.A. em Nova York, em 07
de novembro de 1945, Bill W. disse: “Em resumidas palavras, os Washingtonianos
puseram-se a resolver os problemas do mundo antes de solucionar os seus. Não
tiveram a capacidade de ocupar-se unicamente de seus assuntos”.
O Grupo
de Oxford (**), uma organização religiosa da qual brotaram as sementes de
A.A. e que deu origem a alguns dos princípios e preceitos básicos da Irmandade,
também oferece exemplos do que não deve ser feito. No livro ‘A.A. Atinge a
Maioridade’, Bill W. escreveu: “Os AAs
pioneiros extraíram suas ideias de autoexame, reconhecimento dos defeitos de
caráter, reparações pelos danos causados e o trabalho com os outros, direta e
unicamente do Grupo de Oxford e particularmente de Sam Shoemaker, seu líder nos
EUA”. Entretanto, embora o Grupo de Oxford se preocupasse profundamente com
a sorte dos alcoólicos, alguns costumes desse Grupo incomodavam a Bill W.
Embora seja o responsável por impulsionar alguns dos princípios espirituais de
A.A., as diferenças acabaram por causar a separação dos dois movimentos. Como
Bill W. disse uma vez: “O grupo de Oxford
queria salvar o mundo e eu somente queria salvar os bêbados”.
Aproveitando-se do exemplo dos Grupos
precursores e da cada vez mais ampla experiência retirada de suas próprias
lutas internas durante sua primeira década, A.A. ia-se aproximando dia a dia de
um conjunto de princípios práticos que pudessem orientar e proteger a vida dos
Grupos de A.A.
Em 1946,
na revista Grapevine, os fundadores e membros pioneiros codificaram esse
princípios e publicaram-nos com o titulo de “Os
Doze pontos para assegurar o nosso futuro” (Nota do transcritor: a
partir de 01 de junho de 1949 estes
princípios passariam a se chamar “As
Doze Tradições de Alcoólicos Anônimos”).
“Filhos do caos”, escreveu Bill W. num ensaio sobre a Quarta Tradição, “de maneira desafiadora brincamos com fogo
repetidas vezes, saímos ilesos e, conforme percebemos, mais sábios que antes.
Estes mesmos desvios constituíram um vasto processo de provas e tentativas, o
qual, pela graça de Deus, nos trouxe a onde hoje nos encontramos”.
Conforme Bill W., a acolhida
proporcionada às Tradições nos anos de 1940,
não foi das mais calorosas. “Apenas
Grupos em grandes dificuldades as levaram a sério. Em algumas partes até reação
violenta houve, principalmente naqueles Grupos que tinham longas listas de
regras e regulamentos ‘protetores’. Havia,
também, muita apatia e indiferença”.
Entretanto, e com o passar do tempo,
tudo isso mudou e poucos anos mais tarde, por ocasião da Primeira Convenção
Internacional de Cleveland, Ohio, em julho de 1950, vários milhares de membros de A.A. declararam que as
Tradições de A.A. constituíam “a
plataforma sobre a qual nossa Irmandade poderia funcionar melhor e se manter
unida para sempre”. Deram-se conta de que nossas Tradições resultariam tão
necessárias à nossa sociedade quanto o tinham sido os Doze Passos para a vida
de cada membro. Conforme a opinião da Convenção de Cleveland, as Tradições eram
a chave da unidade, do funcionamento e inclusive da sobrevivência de todos nós
e a Irmandade na sua totalidade aceitou e aprovou esses princípios. Mais tarde,
em abril de 1953, foi publicado o
livro “Os Doze Passos e as Doze
Tradições”, que a Irmandade utiliza como guia para a recuperação individual
e para a sobrevivência coletiva.
Fazendo eco àquelas palavras, J. B., um
membro de Modesto, Califórnia, escreveu na Grapevine de abril de 1984: “As Doze Tradições não são uma mera coleção de guias estabelecidos por ‘eles’ e transmitidas a nós com a ordem
incondicional de que ‘isto é o que vocês têm que fazer, e ponto’. As Tradições são o fruto da experiência e
dos erros que quase destroçaram nossa Irmandade e as aceitamos de bom grado.
Ao falar das Tradições, falamos da vida e da morte. Não posso viver sem
A.A. Mas, você e eu somos A.A. A pesar de nós mesmos, temos que ser
responsáveis por nós mesmos. A pesar de mim mesmo tenho que ser responsável, e
de responsabilidade é do que tratam as Tradições”.
Para saber mais, ver:
(*) Box
4-5-9, Out. Nov./ 1987 (pág. 5 a 7) =>http://www.aa.org/newsletters/es_ES/sp_box459_oct-nov87.pdf
(**)
Box 4-5-9, Fev. Mar. / 1987 (pág. 6-7)
=>http://www.aa.org/newsletters/es_ES/sp_box459_feb-mar87.pdf
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