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segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

7.8. A experiência dos Washingtonianos e o propósito de A.A.


Box 4-5-9, Out. Nov./ 1987 (pág. 5 a 7) => http://www.aa.org/newsletters/es_ES/sp_box459_oct-nov87.pdf
Titulo original: “Lo Acontecido a los Washingtonianos nos Invita a Ceñirnos a lo Nuestro”.

Muitos AAs já têm conhecimento da história do nosso precursor imediato, o Grupo de Oxford, que contribuiu para que muitos alcoólicos nos EUA alcançassem a sobriedade durante os ano 1930 e 1940, e que logo depois infelizmente sucumbiu às tentações do profissionalismo e da política mundial (http://www.aa.org/newsletters/es_ES/sp_box459_feb-mar87.pdf => Box 4-5-9 - Fev. Mar./1987, pág. 6-7). Menos conhecida é a história do Movimento Washingtoniano que, durante sua breve existência na quarta década de 1800, estabeleceu muitos dos pontos ideológicos nos que atualmente se baseia a Irmandade de A.A. No que se parecem estes Grupos? E, mais importante, no que se diferenciam? São as diferenças o suficientemente grandes como para assegurar que a força presente e a unidade de A.A. irão resistir às incertezas do futuro, dia após dia?
            Estas importantes perguntas foram analisadas num estudo comparado do Movimento Washingtoniano com A.A. feito por Milton A. Maxwell, Ph. D., antigo presidente não alcoólico da Junta de Serviços Gerais, e anteriormente professor de sociologia da Universidade Estadual de Washington. Antes de se aposentar em 1975, trabalhava na mesma disciplina no Centro para Investigações sobre o Alcoolismo da Universidade de Rutgers, em New Brunswick, Nova Jersey. Com frequência nos recomendam, como membros de A.A., dar uma olhada atrás “mas, sem fixações”. A informação que segue e os estratos adaptados do Dr. Maxwell, podem nos ajudar a fazer exatamente isso – chegar a um entendimento sobre os Washingtonianos dentro do contexto da sua época, apreciar os pontos fortes que nos legaram, e evitar as debilidades que motivaram seu rápido declive.
            Até 1840, o ano em que nasceu a Sociedade de Temperança Washington, de acordo com o Dr. Maxwell, a opinião que prevalecia era a de que nada podia ser feito pelos alcoólicos, embora de vez em quando um bêbado “se reformava”. O movimento de temperança que o precedeu e que floresceu entre os anos 1826 e 1836 tinha como único objetivo evitar que o não alcoólico se convertesse em alcoólico. Esta implícita indiferença com os alcoólicos talvez tivesse sua mais clara expressão nas palavras de um zeloso defensor da temperança que disse: “Mantenha abstêmios os abstêmios; os bêbados logo irão morrer; e o país será libertado”. “Assim, foi preparado o terreno para o nascimento do Movimento Washingtoniano”, diz o Dr. Maxwell.
            Da mesma maneira que A.A. foi iniciada por bêbados que se ajudavam uns aos outros, assim foi o Movimento Washingtoniano, que teve sua origem numa taverna de Baltimore. Uma noite de abril do ano 1840, seis companheiros de copo – um carpinteiro, um ourives, um fabricante de carroças e dois ferreiros, decidiram de brincadeira, desafiar um movimento de temperança que naquele momento já estava em declínio - “um bando de hipócritas”, conforme um deles, e formaram sua própria sociedade. Imediatamente, celebraram uma reunião, escolheram uma diretoria, fixaram uma cota de 25 centavos de dólar por membro e acordaram que cada um levasse mais uma pessoa na reunião seguinte.
            Os novos membros pediram ao presidente para redigir um termo de compromisso, o qual seria assinado por todos no dia seguinte. O compromisso: “Nós, os que subscrevemos, desejosos de formar uma sociedade para o nosso benefício mútuo, e para nos proteger de um costume pernicioso que prejudica nossa saúde, nossa posição e nossas famílias, prometemos, como cavalheiros, que não iremos beber nenhuma bebida espirituosa ou de malte fermentado, cerveja, vinho ou sidra”.
            A sociedade de Temperança Washington, como esse pequeno grupo se autonomeou, continuou se reunindo no lugar de costume, a Taverna Chase, até que a mulher do proprietário chamou sua atenção devido à perda cada vez maior de clientes. Então, começaram a se reunir na casa de um dos membros até que o grupo se tornou maior e a casa já não comportava mais; foram então para a carpintaria, e finalmente alugaram seu próprio salão. A sociedade foi crescendo tão rapidamente, diz o Dr. Maxwell, que na comemoração do seu primeiro aniversário reuniram-se uns mil bebedores reformados, junto com outros cinco mil membros e amigos.
            O movimento se estendeu até Nova York, Boston, Pittsburgh e lugares mais remotos, e alcançou o pico de sua atividade em 1943, quando, de acordo com um cálculo aproximado, tinha entre cem mil e seis centos mil “bêbados reformados como membros”. Outro acontecimento notável foi a organização de mulheres na Sociedade Martha Washington, cujos membros apoiavam os Washingtonianos, trabalhavam para “resgatar as intemperadas” e também faziam obras de caridade dando “alimento aos pobres e roupa aos necessitados”.
            Entretanto, embora o movimento continua-se se expandindo por todo o país, já começava a se perceber um pronunciado declínio. Na Cidade de Nova York, diz o Dr. Maxwell, os Filhos da Temperança, uma irmandade que preconizava a abstinência completa e que foi fundada com a ajuda e a aprovação dos Washingtonianos; em 1842 começou a contar com muitos membros vindos dos próprios Washingtonianos. Em menos de três anos, o eminente clérigo Lyman Beecher, escreveria a respeito do “ressurgimento da maré de licor”. Disse que, “embora os Washingtonianos aguentassem e trabalharam bem, suas forças estão acabadas”.
            O Dr. Maxwell explica que esta “transferência de membros e lealdade” foi favorecida não apenas pelos Filhos da Temperança, mas também por outras irmandades de temperança que foram criadas naquele tempo. Entretanto, o Movimento Washingtoniano declinou principalmente porque “seus membros, objetivos e ideologia acabara por se misturar com os dos outros movimentos de temperança, e, portanto, o movimento se tornou algo que no começo não tinha intenção de ser: um ressurgimento do próprio movimento de temperança que eles lá no começo ironizavam. O resultado foi um reforço da ideia de abstinência completa e o recrutamento de milhões de pessoas para a causa da temperança. Más, o propósito original de reabilitar alcoólicos foi perdido de vista”.
            Ao comparar o Movimento Washingtoniano com Alcoólicos Anônimos, o Dr. Maxwell sugere que aquele, mesmo parecido com A.A. enquanto ao seu propósito e foco iniciais “não tinha uma ideologia o suficientemente distintiva como para evitar sua dissolução”.
            Para ilustrar sua tese indica os pontos comuns dos dois programas: os alcoólicos se ajudam uns aos outros; fixam sua atenção nas suas próprias necessidades e interesses independentemente da diversidade de seus membros, através do predomínio numérico deste grupo; celebram reuniões semanais; compartilham suas experiências; têm disponibilidade constante do grupo ou de seus membros; dependem de um poder Superior, e se abstém completamente do álcool.
            Depois, o Dr. Maxwell detalha as diferenças, as quais descrevemos de forma abreviada a continuação: 
1)   Exclusivamente para alcoólicos-. Diferentemente dos Washingtonianos, que misturam a temperança com a recuperação do alcoolismo, A.A. se centra unicamente na reabilitação dos alcoólicos.
2)   Unicidade de propósito. - “A.A. não está filiada a nenhuma seita religiosa, partido político, organização ou instituição; não deseja entrar em controvérsias; não apoia nem combate causa alguma. Nosso objetivo principal e mantermo-nos sóbrios e ajudar outros alcoólicos a alcançar a sobriedade”. Embora entre os Washingtonianos tenham sido feitos grandes esforços para minimizar as diferenças teológicas, políticas e sectárias, o movimento, conforme o Dr. Maxwell, “viu-se envolvido na mesma controvérsia dos outros movimentos de temperança. Além do mais, os Washingtonianos acabaram por naufragar na questão da alternativa ‘persuasão moral / ação legal’”. O que tinham conseguido utilizando unicamente o amor e a bondade para reabilitar os alcoólicos fez crer aos washingtonianos e a outras pessoas que se devia empregar o mesmo método para tratar com os fabricantes e comerciantes de bebidas. Seu enfoque chocou-se com o sentimento geral dos movimentos de temperança que favoreciam a “ação legal” e que consideravam que a ênfase que os Washingtonianos deram à “persuasão moral” como “um indício de loucura sensibilizadora”. O número de seus membros ia diminuindo, e os Washingtonianos encontravam-se apanhados em suas próprias redes políticas.
3)   Um programa de recuperação apropriado e bem definido. - Ao invés de considerar o alcoolismo como uma questão moral – como um mal que deve ser eliminado, A.A. o considera uma doença, o sintoma de um transtorno de personalidade. “Seu programa foi concebido para atacar o problema central; quer dizer, para efetuar uma mudança de personalidade. Quando comparado com a partilha de experiências nos grupos Washingtonianos, o programa de A.A. está enriquecido notadamente pela penetração psicológica que a literatura de A.A. leva aos seus Grupos... O aspecto espiritual do programa está mais claramente definido, inclusive considerando-o como uma condição indispensável para a recuperação”.
4)   O anonimato. - Os opositores dos Washingtonianos se valeram alegremente das “recaída” de membros eminentes do movimento, aproveitando-as ao máximo para prejudica-lo, e a confiança do público foi diminuindo. O anonimato protege A.A. da crítica pública, não apenas nas recaídas, mas também dos fracassos e das tensões internas.
5)   Tradições que evitam armadilhas. - A.A. diferencia-se decisivamente do Movimento Washingtoniano por ter conseguido desenvolver um conjunto de Tradições relativamente uniforme para evitar os perigos e abusos que as organizações, de forma geral, têm que enfrentar. De especial importância é a Tradição de manter a autoridade incorporada nos princípios e não em funções ou personalidades.
A tradição da autossuficiência completa dos Grupos e a atividade de A.A. através das contribuições voluntárias de seus membros, evita os perigos inerentes às cotas fixas, taxas, arrecadações públicas, etc., e conduz à independência e à dignidade. Reduzindo ao mínimo a preocupação com o dinheiro, consegue elevar ao máximo o sentimento de companheirismo. A Tradição que diz que “qualquer propriedade considerável de bens de uso legítimo para A.A. deve incorporar-se e ser administrada em separado”, também é importante porque evita que os Grupos se envolvam com problemas de acúmulo de dinheiro além do mínimo necessário para seu funcionamento.
Estas três últimas Tradições sugere o Dr. Maxwell, “podem ser resumidas como uma forma de prevenir-se da tendência comum de esquecer que o dinheiro, a propriedade e a organização são unicamente meios – e que os meios encontram seu lugar apropriado apenas quando se tem uma visão clara do fim a ser alcançado.
Para A.A., estas Tradições devem manter a atenção dos Grupos fixada em seu objetivo primordial: ajudar os alcoólicos a se recuperar. As Tradições e a sua clara expressão, são vantagens que o Movimento Washingtoniano nunca teve”.


            À luz dos conhecimentos atuais, o Dr. Maxwell conclui dizendo, “Não existe razão alguma pela qual A.A. não possa continuar existindo indefinidamente. Quanto tempo irá sobreviver, dependerá do apego dos membros ao programa e aos princípios e do grau de atividade que tenham com outros alcoólicos, da sua diligência em praticar o restante do programa e da sua boa vontade para guiar-se pelas Tradições estabelecidas”.

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